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Sangue. Sinto o gosto amargo de sangue na boca.
E minha cabeça lateja, na floresta se fim.
E meu coração move-se em descompasso; frenesi.
O frio me enlaça, no ar e na neve sobre a qual
corro. A noite de ônix fecha seus braços sobre mim.

Os lobos correm logo atrás de mim, famintos
Correm atrás de sua débil presa, já morta-em-vida.
Eu corro para me libertar, corro pela vida,
minha vida. É a vida que guia meus passos, me impulsiona.

Mas o sangue só está amargo por que
passou tempo demais em minha boca, o sangue-sempre-doce.

E minha cabeça lateja pois se enleva, altera,
e eu sou mais eu. Mais eu. Eu.


E o descompasso em meu peito é a dança bêbada
da felicidade, atirando-me para todos-os-lados-em-mim.

O vento frio me abraça a mando da noite, meu lar.
E na escuridão minha alma se revela, luz-da-Lua.

Eu corro e sou livre. Eu voo sobre a neve branca
pintada de vermelho. Eu sou o artista!

A frágil caça não sou eu. Eu sou o filho de
Diana. E sou filho Apolo. Eu sou o caçador.

Meus irmãos se juntam a mim e seus olhos
se iluminam de desejo, desejo-fome. Fome-de-viver.

Mais uma vez, as navalhas em minha boca alcançam o prêmio.
E meus irmãos e eu cantamos em honra a Noite, em honra
a Lua, e agradecemos a vida que recebemos.
Viveremos mais um dia. Mais um dia.

Meus irmãos se banqueteiam com carne e sangue. Eu apenas
como. Meu banquete, aquilo que me sacia, é correr.
Correr é quase voar, correr na Noite tão acolhedora.
É disso a minha maior fome, e é a própria noite que eu devoro.


Ah! - o Sol já vem - e ele queima as teias que a Noite teceu,
expulsa a escuridão e a mim. Esse já não é o meu lar
e a Floresta iluminada me oprime.
Volto então para a cidade, travestido de homem, para trabalhar.

Também é meu lar, e eles também são minha família. Pois tenho
duas metades, dois de mim que são em mundos distintos.

E a minha natureza verdadeira não é só lobo, não é só homem.
Não é simplesmente ser dois-em-um.
É só a liberdade.

By Douglas Freitas.

Inspirado no filme Sangue e Chocolate.

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